O CASAMENTO DOS TEMPOS BÍBLICOS
O casamento
era uma prática extremamente importante nos tempos bíblicos e importava
não apenas para a família, mas a tribo inteira e toda a comunidade patriarcal.
O casamento influenciava a força da família e até da tribo, alguns fortalecia a
própria nação, no caso do casamento de um soberano com princesas de outras
nações. O casamento era em geral prometido entre as famílias e havia contratos
entre estas famílias com valores financeiros, propriedades e domínios
envolvidos. O casamento era
prioritariamente feito dentro da própria família ou tribo (ver Gn 24.8; Gn
29.19,20).
Nos tempos mais antigos, como
no tempo patriarcal, um homem rico possuía várias esposas, geralmente o homem
casava-se com sua meia irmã (filha do mesmo pai, mas de mãe diferente), como
foi o caso de Abraão (ver Gn 11.29 e 20.12). O objetivo desta prática era conservar a mulher dentro do clã. Entre os hebreus o casamento entre filhos da mesma mãe não acontecia. Mais tarde na lei, a proibição se estendeu a todo parentesco de primeiro grau, como filhos do mesmo pai, da mesma mãe, também tio, tia, nora, sogra etc. Esta proibição não se estendia a primos.
Abraão mandou buscar uma
esposa para seu filho, Isaque dentre seus parentes, para que este não se
casasse com mulheres cananéias (Gn 24.3-4 ver o caso de Esaú em Gn 26.34,25).
Quando a Lei foi promulgada, o casamento entre
hebreus e cananeus foram proibidos (Dt
7.1-4). O motivo da proibição destes casamentos era devido à religião e cultura
extremamente iníquos dos cananeus. Era, permitido, entretanto, que soldados
tomassem moças cananeias como esposas, desde que obedecessem rituais de
purificação (Dt 21.10-14).
Na época de Esdras e Neemias,
foram rejeitados entre o povo todos aqueles que haviam se casado com mulheres
estrangeiras. Muitos escolheram mandar embora mulheres e filhos para permanecer
em Jerusalém (Ne 10.31; 13.23-28 ver Ez 9).
Esta determinação de Esdras, foi por causa do pacto de fidelidade ao
Deus de Israel. Desde o cativeiro babilônico, que havia terminado 100 anos
antes, o povo havia ficado livre da idolatria.
Os israelitas que
permaneceram em Jerusalém durante o cativeiro não faziam parte desta nova
mentalidade. Eles haviam se casado com mulheres cananeias e de outras
nacionalidades e mantinham a pluralidade de deuses (ver EZ 8 – que narra o que
acontecia em Jerusalém durante o cativeiro). Portanto, os israelitas precisavam
provar que estavam que seus pais ou avós estiveram no cativeiro ou durante este
tempo de mais de 150 anos suas famílias estiveram livres dos deuses
estrangeiros trazidos por casamentos mistos.
O casamento envolvia contrato
financeiro, que era o contrato do casamento. A família da noiva recebia um
pagamento da família do noivo (Gn 34.1-12; Ex 22.16; 1Sm 18.23-25). Este
pagamento era um ressarcimento pela perda dos serviços da moça para família.
Também era considerado os esforços e despesas na criação e educação da moça. Na
Lei hebraica, foi fixado um preço para a virgem e para a não virgem (Ex 22.16).
A CERIMÔNIA DE CASAMENTO NOS TEMPOS BÍBLICOS
Não havia uma cerimônia
religiosa formal de casamento entre os hebreus nos tempos bíblicos como há
hoje. Não havia sermão, benção ou oficialização por parte de um sacerdote ou
outra figura religiosa, apenas a benção dos pais. A cerimônia, se assim se pode
chamar, era uma tradição que era seguida.
A NOIVA.
A noiva se preparava com
muitos óleos perfumados ( Rt 3.3; Ez 23.40). Suas roupas incluía faixas para o
busto e um manto branco. As mais ricas usavam um manto bordado mesclando branco
e dourado (Jr 2.32; Sl 45.13-14). A
noiva se enfeitava com adornos e joias, se tivesse condições (Is 49.18; 61.10).
Ela se enfeitava com uma veste em forma de véu que a cobria dos pés à cabeça (
Is 3.19-23). Labão enganou a Jacó,
justamente por causa das vestes usadas no dia do casamento (Gn 29.23-25). Nos
tempos mais antigos, o noivo não via a noiva por causa deste grande véu que a
cobria. Rebeca se cobriu um véu ao se aproximar de Isaque (Gn 24.65). Este véu
simbolizava que a noiva estava se sujeitando ao noivo, pois ele e somente ele
iria remover o véu (ver 1Cor 11.5-10).
O NOIVO
A roupa do noivo era feita
para a ocasião, geralmente era colorida e o destaque era um turbante na cabeça,
preso por um diadema, simbolizando que ele teria uma casa com o nome dele e
teria autoridade sobre ela (Ct 3.11 e Is 61.10).
O noivo no dia de ir buscar a
noiva, deixava sua casa a noitinha acompanhado por um grupo de amigos ou pelo
melhor amigo (ver Mt 9.15). Havia então uma festa de despedida na casa da
noiva, onde um grupo de amigas solteiras
(virgens) esperavam cada uma com uma lâmpada acesa. Eles, então se dirigiam à
casa do pai do noivo ou ao local onde haveria a festa e onde estava preparado
um aposento, ás vezes uma tenda para a primeira noite do jovem casal (ver Jr
7.34; Is 16.9; Mt 25.1).
O noivo um tempo antes passa
algum tempo, em caso de morar longe, poderia ficar vários dias, em tratos com a
família da noiva, onde era efetuado o noivado. A partir deste momento eles eram
considerados – irussim – desposados ou noivos, antes de se tornarem – nissuim –
um casal casado. Desde o momento em que eram considerado – irussim – já
existiria o adultério (foi o caso de José e Maria). Não seria crime, nem
transgressão social ou da lei se Maria engravidasse de José, por isso quando
soube que Maria estava grávida, sabendo que o filho não era dele, José decidiu
deixá-la, para que ela não ficasse com má fama, mas sim ele. Todos pensariam
que José a tinha engravidado enquanto noivos e abandonado a Maria.
O difamado seria ele ( ver Mt
1.18-20 e Lc 1.26). A lei previa que uma noiva cometesse adultério (lembrando
que o adultério e trair o marido ou noivo com outro homem), ela e o homem
culpado deveriam ser mortos. Se ela fosse abusada, o homem deveria ser morto.
Veja que se a moça não fosse noiva, o procedimento era outro ( Dt 22.22-27).
O noivo partia com a promessa
de voltar assim que tudo estivesse preparado com relação à festa e á moradia
(ver as palavra de Jesus em João 14.1-3 – assim procedia o noivo). As famílias
nobres mantinham os recém casados na casa do pai do novo, que tinha muitos
aposentos e conforme os filhos iam casando, novos aposentos eram construídos ou
melhorados.
Os noivos eram os últimos que
entravam na festa e depois deles ninguém mais ( Mt 25.1-12; 22.1-3; Gn 29.22).
As famílias mais nobres enviavam aos convidados mantos específicos, sem os
quais não se poderia entrar na festa. Entre os ricos, quando uma pessoa da
nobreza estava para casar, aguardava-se ansiosamente pelo convite que era o
traje. Nestes casamentos os lugares eram determinados por famílias e pela
importância de cada uma (Mt 22.11; Lc 14.8-11). A rejeição
a um convite de casamento era um insulto à família dos noivos e aos
próprios noivos (ver Mt 22.8).
Apesar de não haver uma
cerimônia formal, havia uma cerimônia tradicional e os casamentos eram
registrados por escribas em registros oficiais da comunidade para fins de
comprovações genealógicas, práticas da maioria dos povos antigos (ver como
exemplos as genealogias de 1 Crônicas 1 a 9
e Mateus 1.1-16 e Lucas 3.23-38 ).
A estrutura familiar dos tempos bíblicos era organizada a partir dos clãs. O clã ou a casa patriarcal constituía a unidade mais restrita da família, embora se pareça muito pouco com o que hoje entendemos por esse termo (ver Dt 29.18; jos 7.14; 1Sm 10.21; Ex 6.14; Nm 3.14; Ex 12;21). Uma família, poderia se constituir de várias “casas”. Cada casa tinha um pai, mas cada pai poderia estar debaixo da ordem familiar de um patriarca ou líder do clã.
A família, portanto, se
constituía de uma vasta reunião de células familiares que reorganizavam quando
uma patriarca morria em tantas “casas patriarcais” quantos filhos casados ele
tivesse. Os clãs perpetuam a memória do patriarca sujo nome ela leva por muitas
gerações. Alguns sistemas genealógicos levam o nome do patriarca geracional ao
invés do nome do pai de cada casa.
A família bíblica em geral é
patriarcal e monogâmica, mas os homens mais ricos geralmente possuíam mais de
uma mulher. Os extremamente ricos e poderosos além de possuírem várias
mulheres, possuíam também muitas concubinas que eram mulheres que eram
sustentadas por mantenedor, podendo ele gerar filhos com elas, mas estes filhos
não fariam parte da herança do pai e nem seu nome para fins genealógicos.
O homem geralmente se casava
entre dezoito e vinte anos, as meninas entre os doze e quinze anos. Quando uma
menina tivesse sua primeira menstruação, ela já estaria na idade de casar e
geralmente casava. Era costume a mãe dar nome a seus filhos (ver Gn 19.37).
O homem poderia se casar com
sua meia irmã, filha de seu pai, mas não de sua mãe (Gn 20.12; 1Sm 13.13ss). O
filho mais velho, a partir dos 30 anos monopolizava os direitos da casa ou da
família e eram privilegiados em matéria de herança e domínio futuros (Dt
21.17).
Os pais tinham todo direito
sobre a casa e em épocas mais antigas (antes da época do Cativeiro Babilônico),
ele tinha direito de fazer o que quisesse com seus filhos, noras e até esposas,
inclusive vendê-los como escravos ou oferecê-los em sacrifícios. Os casos de
Abraão levando seu filho para Moriá e Jefté oferecendo sua filha em holocausto
são exemplos deste poder dos pais (Gn 22
e Jz 11.30-40).
A lei mosaica não aprova este
poder e manda que o pai trate os filhos e demais membros da família com
justiça. Diz para não oferecer os filhos em sacrifícios a outros deuses e não
favorecer um em detrimento de outro (Dt 21.17-17). O exemplo de reis que
ofereceram seus filhos em sacrifícios são exemplos de que a lei nem sempre era
seguida (2 Reis 16.3 e Sl 106.37).
Não era costume a adoção de
filhos e quando uma criança ficava órfã dentro do clã ou da tribo, ela passava
a ser serva de outra família, mas jamais filha, pois a filiação implicava em
herança. O vinculo familiar e o direito à herança se definiam unicamente pela
ascendência, pelo sangue.
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