TEOLOGIA
DO NOVO TESTAMENTO
1- INTRODUÇÃO
O Novo Testamento é a
última revelação escrita de Deus que tem sua origem no Antigo Testamento. O
Novo Testamento é a realização e o cumprimento do Antigo. O conceito de
revelação progressiva é familiar na interpretação do Antigo Testamento e também
na área da relação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. A revelação
cristã é, obviamente, um avanço sobre a revelação do Antigo Testamento. Com
Cristo, o sistema de culto do Antigo Testamento se tomou obsoleto, como a
epístola aos Hebreus deixa claro. A prática, mas seus princípios. A forma, mas não seu espírito. Pois todo o sistema está em vigência na pessoa e obra de Cristo, pois é nele que todo aquele sistema encontra seu cumprimento. Neste sentido, não é correta a afirmação de que o Antigo Testamento caducou. Esta afirmação invalida o Antigo Testamento e invalida a Lei. A Lei em sua parte cerimonial teve todo o seu cumprimento em Cristo, da qual era sombra. A Lei civil era nacional e como o antigo Israel passou, assim ela perdeu também sua aplicação. A Lei moral, todavia, era e continua sendo o padrão de santidade para o cristão.
Mas será mesmo que há
um desenvolvimento doutrinário dentro do Novo Testamento, uma vez que os
escritos foram feitos em pouco tempo, e me muitos casos em tempo paralelo? Uma
área óbvia em que isso é inegável é a diferença entre os Evangelhos e o
restante do Novo Testamento.
Antes da morte e
ressurreição de Cristo, a revelação dada aos discípulos era limitada. Pela natureza
do caso, Jesus não podia dar uma explicação plena acerca de sua própria morte
aos discípulos até que eles tivessem compreendido o fato da ressurreição. Mas,
depois da ressurreição, os pregadores apostólicos foram guiados a uma
compreensão dela, com uma rica variedade.
A compreensão da
pessoa de Cristo não aconteceu de modo cataclísmico. Ela parece ter sido
revelada por etapas. É de grande importância ter isso em mente, para evitar o
erro de procurar afirmações desenvolvidas de doutrina onde o desenvolvimento
ainda não tinha ocorrido.
2.1 – O SENHOR
JESUS É A CHAVE PARA A INTERPRETAÇÃO.
A figura-chave
na teologia do Novo Testamento é a pessoa de Jesus Cristo. É
necessário pouco esforço para demonstrar que Jesus Cristo é a principal força
aglutinadora do pensamento do Novo Testamento. No entanto, esse fato, por si
mesmo, não é suficiente para estabelecer a unidade básica do Novo Testamento, pois
aparentemente não há uma unidade de pensamento e interpretação sobre a pessoa e
obra de Cristo nos livros do Novo Testamento. Isso acontece, justamente pela
riqueza do tema e pelo pouquíssimo tempo em que foram escritos. Devemos lembrar
que a maioria dos escritos do NT, foram cartas de instruções às igrejas.
Enquanto muitos
estudiosos viram “várias cristologias”, o que vemos são vários aspectos
da cristologia.
2.2 – O SENHOR JESUS
E A NECESSIDADE DE COMPREENDÊ-LO.
Nenhuma parte do NT é
inteligível sem a compreensão de como Cristo é retratado nela. Cada parte faz alguma
contribuição, embora algumas sejam menos incisivas acerca de cristologia, como
a carta de Tiago, por exemplo. A variedade de descrições acerca da obra de
Jesus Cristo apresenta um quadro enriquecido, mas todas as ideias se referem à
mesma pessoa que viveu, morreu e ressuscitou. Há diferentes retratos do mesmo
Jesus. Algumas afirmações apresentam seu ofício messiânico, algumas seu reino
majestoso, outras seu senhorio, outras sua humanidade, outras sua atividade
criadora, e muitos outros aspectos. A
verdade é que a teologia do NT é, essencialmente, teologia acerca de Jesus
Cristo. E por essa razão que a cristologia é a doutrina primária a ser
considerada. Isso não acontece por causa de alguma influência dogmática, mas
puramente porque é mais lógico procurar nele, que se tomou o centro da fé
cristã. A cristologia, é por tanto, a
unidade básica para o NT.
3.1 – A GRAÇA E SUA
RIQUEZA REVELADAS EM CRISTO.
Se o Novo Testamento
simplesmente focaliza nossa atenção sobre os vários aspectos de Cristo,
exibindo-o em sua rica e poderosa variedade, isso não seria suficiente a menos
que nos dissesse alguma coisa acerca de sua relevância para o
homem. Portanto, a obra de Cristo, ou seja, a sua atividade salvadora deve estar
vinculada à sua pessoa. Encontramos também muitas expressões diferentes dentro do Novo Testamento e muitas declarações de que por meio da obra e méritos de Cristo, o ser humano é capacitado a se achegar a Deus, mesmo considerando que o pecado causou tamanha perturbação no relacionamento. Todos os ricos aspectos das doutrinas da graça e da expiação são fundamentais para uma compreensão da unidade do Novo Testamento em seu aspecto teológico e doutrinário.
3.2 – A SALVAÇÃO VEM
DE DEUS POR MEIO DE CRISTO
A linha doutrinária
do Novo Testamento é a salvação em Cristo. Podemos afirmar então que o tema
central é Cristo, que veio ao mundo para salvar os pecadores da perdição
eterna, como obra do amor de Deus. Esta abordagem teocêntrica do Novo Testamento, verá Deus, em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo e fazendo essa atividade conhecida de várias maneiras, mas sempre do ponto de vista da iniciativa divina. A salvação em toda a Escritura, é centralizada nos atos de Deus na História, mas também, sendo a explicação daqueles atos de Deus expressos por meio do ser humano e para a humanidade.
Este tópico é de suma importância, por qualquer aplicação do Antigo Testamento tem que necessariamente passar por Cristo e sua obra.
Uma das influências mais poderosas do pensamento dos cristãos primitivos era a convicção de que aquilo que havia sido predito pelos profetas hebreus se cumpriu em Jesus Cristo.
4.2 – A CONTINUIDADE
DO ANTIGO NO NOVO TESTAMENTO
Embora haja variação
na ênfase dada a esse tema, ele está presente na maioria dos livros do Novo Testamento
e, sem dúvida, forma um forte vínculo
entre as fontes de ensino. Isso se refere não somente às citações do AT, mas
também à aplicação de muitos conceitos do AT a Jesus Cristo. A ideia de cumprimento
garantiu uma medida considerável de continuidade, pois o AT servia como uma
verificação de amplas variações de interpretação.No Antigo Testamento o povo de Deus era uma nação, no novo Testamento é uma comunidade formada por pessoas de todas as etnias ou de todas as nações. Não mais um povo de uma nacionalidade específica, mas traz a ideia de comunidade. Outra declaração é que todos os cristãos (aqueles que estão em Cristo) estão unidos em uma comunidade.
5.2 – OS CRENTES FORMAM A COMUNIDADE DOS SALVOS
Essa ideia percorre
toda a literatura do NT. O corpo de crentes, a Igreja de Cristo, é vista tanto
em suas dimensões locais quanto em suas dimensões universais. Não há sugestão
de que cada grupo pudesse forjar sua própria posição teológica. De fato, o oposto
está mais próximo da verdade, em vista das advertências contra certos erros ou
práticas que teriam causado dissensões se tivessem sido tolerados. Há um
pressuposto básico no Novo Testamento de que os crentes deviam formar uma
unidade, e isso, por si mesmo, pressupõe que havia uma concordância geral
acerca das doutrinas básicas.
5.3 – A IGREJA É O
CORPO DE CRISTO
O corpo de Cristo nunca é apresentado como uma
coleção de grupos eclesiásticos soltos que careciam de entendimento daquilo que
queriam dizer.
6 - A DOUTRINA DA
ESPERANÇA FUTURA.
6.1 – A ESPERANÇA E A
DEMORA DA VINDA DO SENHORSem qualquer voz discrepante, o NT dá testemunho da firme convicção de que Jesus retomará. Os detalhes são mais claros em alguns livros do que em outros, mas a linha de esperança escatológica percorre fortemente a fé dos cristãos primitivos. Esse fato é mais importante do que os problemas levantados pela demora da vinda do Senhor.
6.2 – AS PROMESSAS
SERÃO CUMPRIDAS
Além disso, há uma
firme crença de que muitas das promessas alcançarão seu cumprimento apenas em
uma era futura. Essa compreensão de que o futuro detém a chave do presente pode
ser apresentada como uma característica predominante da fé do NT.Uma das características mais marcantes da literatura do Novo Testamento é a atividade penetrante do Espírito Santo. Houve, sem dúvida, uma forte dependência da obra do Espírito Santo desde a encarnação de Cristo até os vários estágios de desenvolvimento da igreja e, embora haja diferentes ênfases, há uma consistência notável acerca disso.
7.2 – A PRESENÇA DO ESPÍRITO SANTO
A teologia do Novo Testamento é delimitada pelo vínculo do Espírito. O Espírito Santo no Antigo Testamento é uma presença constante, como Espírito de Deus, mas no Novo, sua atuação é distinguida como uma pessoa divina.
Está claro, na maioria dos panoramas superficiais da literatura do Novo Testamento, que existe uma íntima relação entre o Antigo e o Novo. As tentativas de dispensar o primeiro conduzirão a uma distorção do segundo. O considerável número de citações do Antigo Testamento que aparecem no Novo, dá um testemunho impressionante da importância atribuída à continuidade entre a Era Cristã e o Antigo.
8.2 – O VÍNCULO ENTRE
OS TESTAMENTOS
O tema de promessa e
cumprimento vincula os dois. A Escritura da Igreja Primitiva era o Antigo Testamento,
e era de esperar que os apóstolos baseassem grande parte de sua exegese nas
predições do Antigo Testamento. Contudo, por mais importantes que sejam, as
citações do Antigo no Novo Testamento, não constituem a maior contribuição dos
estudos do Antigo para a teologia do Novo Testamento ; a maior contribuição é a
nova roupagem dada aos conceitos vetero-testamentários, que foram assimilados e
revestidos de um novo significado por Jesus e pelos apóstolos.
8.3 – A ESTIMA DE
JESUS PELO ANTIGO TESTAMENTO
Somente uma
apreciação do uso do Antigo pode explicar muitos conceitos do Novo Testamento. Vários métodos são usados nas citações do Antigo no Novo, por meio dos quais a ideia de autoridade brilha claramente. Não há dúvida de que os escritores do Novo Testamento faziam a mesma abordagem que os mestres judaicos da inspiração do texto. Certamente Jesus tinha uma elevada estima pela Escritura, e as epístolas mostram que essa estima foi compartilhada pelos apóstolos.
8.4 – A AUTORIDADE DO
ANTIGO TESTAMENTO AFERIDA PELO NOVO
A frequência com que
ocorre a fórmula “está escrito” demonstra o poderoso efeito que se considerava
que o Antigo tinha sobre as verdades do Novo
Testamento, que alegadamente se apoiava sobre o Antigo. Isso é característico,
principalmente, das epístolas de Paulo. Em alguns casos, isso não depende
sequer da relevância do contexto original. Um notável exemplo é o agrupamento
de vários textos acerca de um tema comum, como vemos em Romanos 3. Um exemplo
semelhante da autoridade dos textos do Antigo Testamento é visto no uso
frequente que Mateus faz da fórmula “isso
aconteceu para se cumprir a Escritura” ou fórmulas análogas, para mostrar uma
variedade de maneiras nas quais o AT foi cumprido no ministério de Jesus.
Nenhum intérprete da teologia do NT pode deixar de lado a importante
contribuição do AT na formação do NT.
Neste sentido, a Carta aos Hebreus é de grande importância por sua forma
de tratar o problema da interpretação do AT. A contribuição dessa epístola para
a teologia do NT é, sem dúvida, profundamente influenciada por sua abordagem a
esse tema.
8.5 – A NECESSIDADE DO USO DO ANTIGO TESTAMENTO
O conceito do sumo sacerdócio de Cristo, por exemplo,
encontra sua base no culto do AT, muito embora seja visto como superior à antiga
ordem sacerdotal. Embora, em certo
sentido, a inadequação do culto do AT seja geralmente refletida
no NT, não há qualquer sugestão de que o AT possa ser ignorado. Significativamente,
a primeira pessoa a cair nessa armadilha acabou formulando um conceito
totalmente inadequado da teologia cristã. A tentativa feita por Marcião, na
igreja do segundo século, de dispensar o AT encontrou firme resistência por
parte dos líderes cristãos ortodoxos, que reconheceram os perigos dessa
abordagem.
8.6 – A NECESSIDADE
DE COMPREENDER O ANTIGO TESTAMENTO
A necessidade que o
teólogo tem de definir sua compreensão da relação entre a revelação do AT e a
revelação do NT é mais forte do que no
caso da relação entre a teologia do NT e qualquer outro dos estudos
contextuais, por causa do caráter autoritativo do AT. Esse caráter autoritativo
não pode ser colocado em pé de igualdade com os estudos rabínicos, os estudos
de Qumran e os estudos filosóficos, por exemplo, pois em nenhum lugar o NT dá a
qualquer desses estudos uma autoridade comparável. Aliás, nenhum deles é sequer
mencionado. O AT não pode ser considerado simplesmente como uma fonte entre
muitas outras, pois ele é único entre todos os estudos contextuais. Isso requer
que o teólogo do NT tente explicar a continuidade tanto quanto as diferenças
entre o AT e o NT.Por enquanto, é suficiente dizer que uma ideia de revelação progressiva que veja um avanço na teologia do NT sobre a teologia do AT, pelo menos em vários aspectos importantes, parece inevitável se quisermos ver a plena glória da revelação da verdade de Deus em Cristo.
8.7 – JOÃO BATISTA É
A TRANSIÇÃO ENTRE A ANTIGO SISTEMA E O NOVO
Uma importante
colaboração, aqui, é a posição de João Batista. Ele aparece no papel de um
profeta do AT, aliás, o último dos grandes profetas. Sua missão é anunciar a
vinda de uma nova era. Ao fazer isso, ele anuncia a diminuição de sua própria
importância e o aumento da importância do Messias. Embora ele dê testemunho de
sua própria indignidade, a importância de seu ofício está em seu vínculo entre
a antiga ordem e a nova. É importante que Jesus tenha relacionado João Batista
entre os maiores nascidos de mulher, uma boa lembrança de como Jesus via o
ofício profético de João Batista. Além disso, em sua pregação inicial, Jesus
proclamou o mesmo tema que João Batista - arrependei-vos, pois o reino está
próximo. O devido valor deve ser dado ao ministério e ao testemunho de João
Batista como prelúdio para uma correta compreensão do ministério de Jesus.
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