sábado, 16 de dezembro de 2017

O Jejum Bíblico



Palestra em diversas ocasiões.
Aula - Teologia da Espiritualidade - Maio de 2015




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O ENSINO DE JESUS SOBRE O JEJUM – Mateus 9.14-17

O jejum era parte da espiritualidade judaica. A Antigo Testamento previa o jejum como parte importante da vida do povo israelita. A prática, entretanto, havia se tornado não uma pratica devocional, mas extremamente legalista. Os discípulos de Jesus libertos da prática legalista passam a não observar os rituais normais do jejum semanal, pois os fariseus, por exemplo, jejuavam duas vezes por semana.
Os discípulos de João Batista reagem e dirigem uma pergunta a Jesus: “porque nós e o fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam?” Vemos que também o jejum havia se tornado símbolo de status espiritual. O fato de Jesus viver o dia a dia das pessoas, participando de almoços e jantares com as famílias era motivo de críticas.
Se ele jejuasse, seria criticado também, pois isso aconteceu com João Batista que jejuava no ritmo dos fariseus (ver Mt 11.18-19). O Senhor Jesus em sua vida devocional não exibia aquela atitude arrogante de superioridade espiritual típica dos fariseus.
 O jejum é um assunto importante e sua prática ao ser observada de forma correta, com a motivação e atitude espiritual certa trará grandes benefícios devocionais e principalmente para a vida espiritual e ministerial.
Resultado de imagem para Jejum 1 - O JEJUM BÍBLICO
Precisamos entender o que significa o jejum bíblico e para isso o primeiro passo é buscar a compreensão correta em sua definição. Jejum é a abstinência de alimento por um temo determinado. É uma pratica devocional, ou seja uma observância, um rito com significado religioso. Nas religiões pagãs, estava ligado ao medo dos espíritos e era parte da purificação para aperfeiçoamento da pessoa para poder enfrentar ou agradar os deuses. A pessoa jejuava para para ter condições espirituais de se conectar com os deuses. Para estar suscetível à direção das divindades.
Nas religiões com teor místicos, também chamadas de religiões mágicas, era parte dos rituais para alcançar sucesso, pois a pessoa se tornava mais poderosa e atraía pela espiritualidade evoluída os bons fluidos que conduziriam ao êxito nos seus empreendimentos.
O termo bíblico usado no Antigo Testamento é o hebraico  - sum – que quer dizer – sem alimento, abstinência, não comer, ausência, dor etc. Era usado também o termo – Innah nepês – que significa – afligir a alma, humilhação da alma etc (ver por exemplo Levitico 16.29-31  e 23.27).
Foi a partir deste significado, que os fariseus desenvolveram a prática de demonstrar que estavam jejuando e nestes dias andavam com o rosto desfigurado para que todos soubessem que estavam em jejum.
Este “afligir a alma” não era o jejum, mas uma atitude de humilhação diante de Deus, um sentimento. Este sentimento ou atitude deveria ser acompanhado do jejum.
O jejum de um dia, que era comum, deveria começar no por do sol de um dia e ser encerrado no por do sol do dia seguinte. Era assim que o dia era medido, de um por do sol ao outro. Nestes jejuns, as pessoas deveriam se abster de pão e água (ver Êxodo 34.28).
 O jejum bíblico era ligado à idéia de humilhação, de preparo para executar serviços para Deus.
A Lei previa apenas um jejum durante o ano, que no Dia da Expiação (levítico 16.29-31; 23.27-31).
Na oração do fariseu ele se orgulha de jejuar mais ou ao contrário do publicano e por isso se considerava mais espiritual.
O fariseu jejuava 104 vezes por ano.
Esta pratica dos fariseus de jejuar duas vezes por semana foi uma evolução gradual em lembrança de alguns eventos significativos na vida do povo judeu. Quando o povo voltou do cativeiro (539-536 a.C.) e tendo reconstruído o templo (518 a.C.), os judeus como lembrança da destruição do primeiro templo (587 a.C.), passaram a observar mais três jejuns durante o ano (ver Zc 7.3-5; 8.19).
 Estes jejuns eram de lamentação e aos poucos, depois de Esdras com o estabelecimento da “tradição dos anciãos” (grande sinagoga), foram sendo acrescentados jejuns até chegar aos dois semanais. Com a substituição da devoção pela tradição, o jejum deixou de ser uma pratica devocional para ser uma demonstração de espiritualidade.
2 - COMO ERA PRATICADO O JEJUM NO ANTIGO TESTAMENTO.
O jejum, no entanto, mesmo antes do cativeiro era uma prática que não foi do dia especial para a prática devocional comum, mas foi o contrário, foi da prática comum para o dia especial. Isto é, era uma prática devocional que na instituição do Dia da Expiação Deus ordenou que neste dia o povo todo jejuasse.
3 - O JEJUM ERA PRATICADO DE FORMA INDIVIDUAL.
As pessoas jejuavam em momentos de crises, de dificuldades, lutos e lutas (ler 1Sm 12.16-23; 1Rs 21.27-29; 1Sm 35.13). As pessoas eram livres para jejuar e assim faziam. Não está registrado, mas como o jejum era prática comum; a tradição profética informa que os profetas eram pessoas que faziam longos jejuns.
4 - O JEJUM ERA PRATICADO COLETIVAMENTE.
O jejum também era praticado coletivamente em convocações especiais. Esta convocação era feita pelo rei no tempo da monarquia, ou pelo líder máximo do povo como um juiz na época dos juízes ou como no caso daquela colônia judaica que ficou na Pérsia no tempo de Ester. Naquele caso, Mordecai (Mardoqueu) foi quem convocou o jejum de todo o povo.
Estas convocações eram feitas em tempos de guerra ( Juízes 20.26; 2Crônicas 20.3; Ester 4.16; Jonas 4.3-10); também em tempos de crises nacionais como pragas de gafanhotos (Jl 1.14 e 2.12); em tempos de crise espiritual (Esdras 8.21-23 e Neemias 9.1 ver o caso de Jonas em Nínive).
Estes jejuns eram acompanhados de longos períodos de orações e períodos de silencio em humilhação pública e arrependimento. Durante o jejum, as pessoas se colocavam em abstinência de alimentos, de água e de todas as atividades que os impedia de ficar somente na presença de Deus (ver Jeremias 14.11-12 e Neemias 9.1-2).
4 - O JEJUM JUDAICO E O JEJUM CRISTÃO
Nos versos 16 e 17, Jesus usa figuras para mostrar como a inauguração da Nova Aliança rompia com antiga superando-a em prática e significado. “Não se põe remendo novo em pano velho, nem se põe vinho novo em odres velhos...” isto significa que a Nova Aliança, o cristianismo, é o vinho novo e não é um remendo no judaísmo. O cristianismo (a mensagem de Cristo) deve ser colocado em vasilhas novas.
O judaísmo farisaico do tempo de Jesus era o melhor que havia sobrado da antiga tradição judaica do Antigo Testamento. O jejum bem como toda prática religiosa do Antigo Testamento com ritos, simbolismos e exibições.
A aparência de espiritualidade havia substituído a autenticidade e a verdadeira devoção espiritual. A aparência religiosa, havia substituído a verdadeira adoração. Deus deseja a sinceridade, a autenticidade, a verdade do coração e a pureza da intenção  e não uma religiosidade fingida. A religiosidade judaica, tanto dos fariseus como dos saduceus era falsa.
Era legalista e não tinha vida. O Evangelho, a mensagem do Senhor Jesus e sua própria pessoa é um chamado ao arrependimento, à mudança de vida e à prática da misericórdia.
O culto verdadeiro a Deus, a verdadeira espiritualidade que o Senhor Jesus ensina deve ser acompanhada de atitudes de misericórdia e amor com as pessoas.
O jejum que não é acompanhado com estas atitudes é sem sentido e se torna apenas uma pratica como a do judaísmo e não uma prática devocional de adoração a Deus (ver Isaias 59).
Para o cristão bíblico, o jejum não é um ritual sem significado, mas uma pratica séria. No Talmude (livro de tratados judaicos dos rabinos), está escrito que um rabino jejuou oitenta vezes para poder ir ao encontro de outro. Certamente, este não é jejum verdadeiro. Não é este o espírito correto do jejum. Jejum é uma humilhação diante de Deus. É uma pratica para mortificar desejos carnais para que a pessoa possa servir a Deus de forma mais consagrada.
Não podemos jejuar para exibir nossa espiritualidade. É uma oportunidade de renunciar à carnalidade, aos desejos mundanos, à renunciar a tudo aquilo que nos afasta de servirmos a Deus. Precisamos jejuar regularmente. Separar um dia regular e periodicamente onde vamos oferecer a Deus pelo menos duas refeições (como a prática nos tempos bíblicos), não tomar líquidos e passar este tempo ocupando-o com práticas devocionais como – oração, leitura da Bíblia, cânticos, visitas à necessitados etc.
Mas não o pratique como os fariseus como um teatro. O dia de jejum é um dia ao Senhor. De consagração ao Senhor. De dedicação ao Senhor, de serviço ao Senhor. Um dia de humilhação onde reconhecemos o quanto dependemos da provisão de Deus, da graça de Deus, do cuidado, da benção e do poder dele em nossa vida.

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