Aula de Teologia Prática - em outubro de 2015
A PRÁTICA DA DOUTRINA OU COMO CRER, NO QUE CRER A PRÁTICA DO QUE SE CRÊ.
- Da Inteligência, do uso da Palavra, da graça e do ser imagem de Deus
Como vimos na aula passada, o cristianismo não é um estilo de vida, mas antes de tudo é um sistema de doutrinas. Não se trata de vida correta, mas de fé correta. A vida do cristão é correta, porque ele pratica a doutrina em que crê.
Vamos continuar com os pontos. O próximo é minha quinta proposição
5 - USE SUA INTELIGÊNCIA E RAZÃO PARA CRER EM DEUS.
A razão humana é a capacidade dada
por Deus para que as pessoas entendam a sua revelação, por isso, Deus mesmo
chama de loucos aqueles que usam a razão para negá-lo (Sl 14.1).Deus se revela sabendo que há na mente humana a possibilidade de ser entendido e conhecido, pois ele mesmo criou o ser humano e o dotou desta capacidade.
A mente humana é capaz de perceber a existência de Deus, mas não é capaz de se converter a Deus, ou seja, de operar uma mudança de vida em si mesma, pois está obscurecido e contaminada pelo pecado.
O pecado corrompeu o intelecto, a vontade e a faculdade moral do se humano; ele está morto espiritualmente, sendo escravo do pecado (Gn 6.5; João 8.34-44; Rom 3.23; 6.6,23; Ef 2.1; Col 1.13; 2.13), por isso, é preciso que o próprio Deus, através do Espírito Santo ilumine a mente humana.
Ainda que o pecado tenha obscurecido a mente humana, ele não destruiu a percepção. Esta é a graça de Deus na razão pecaminosa ou apesar dela. A graça de Deus age na razão pecaminosa humana, para não apagar a imagem de Deus, que é obscurecida, mas exterminada.
Ele pode perceber a existência de Deus, pode entender a vontade de Deus, mas não tem o poder de fazer essa vontade, a não ser por ação do Espírito Santo.
Só podemos conhecer a Deus se revelado por seu filho Jesus (Mt 11.27).
Vejamos as verdades com relação a isso:
a) As tentativas humanas por encontrar Deus à parte de Jesus Cristo, conforme nos é dado a conhecer nas Escrituras, terminam em naturalismo, ateísmo ou deísmo.
b) A religiosidade descompromissada como resultado da carência de Deus, não direcionada pela Palavra, termina em superstição e idolatria.
c) A busca de Deus pela via enganosa é um remendo humano-religioso que torna a situação humana pior, pois é cegueira enganosa que leva à perdição.
d) Crer em Deus à parte do Evangelho, leva a pessoa à insensibilidade ao Evangelho e a negar a pessoa de Jesus Cristo.
e) Ao encontrar a Deus, a pessoa não guarda isso para si, mas a consequência é a proclamação do Evangelho como projeto de vida.
Por isso, quem já foi iluminado pelo Espírito, já conhece a verdade e experimenta a salvação, deve usar sua inteligência, seu intelecto e sua razão para crer e glorificar a Deus e fazer sua vontade ( Rom 12.1-2).
Assim, concluímos três fatos:
a) Conhecemos a Deus conhecendo a sua Palavra.
b) Conhecemos a Deus na pessoa de Jesus Cristo que a Palavra revela.
c) Conhecemos a Deus experimentando o Espírito Santo.
6 - LEIA A BÍBLIA PARA CRER, LEIA PARA PROCLAMAR
Temos a Palavra, temos a revelação, temos os tesouros das riquezas da graça a nossa disposição. Como escreveu Calvino “A igreja é o Reino de Cristo e Cristo reina por sua Palavra.” Lutero escreveu que “onde não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada.”
Não são nossas experiências que determinam o que é verdadeiro e se a Palavra é verdadeira, mas é a Palavra que determina se nossas experiências são verdadeiras.
Muitos se perdem ao deslocar o “eixo hermenêutico” da Palavra para a experiência mística, afastando-se, assim, da Palavra e em consequência do “Deus da Palavra.”
Muitas vezes, infelizmente, os que supõe ter mais intimidade com Deus, são os que mais patrocinam o distanciamento da Palavra ao promover as experiências como normativas para a espiritualidade.
Veja o que a Bíblia diz: “ A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14).
Vejamos então:
a) A Palavra de Deus é a fonte de autoridade de Deus
para nossa maneira de pensar.b) A Palavra de Deus é a fonte para nossa maneira de crer, sentir e agir.
c) A Palavra de Deus é a fonte para comprovar a verdade de nossa experiência espiritual.
d) A Palavra de Deus é suficiente para nos levar ao crescimento espiritual.
A Palavra de Deus é a nossa fonte, norma e autoridade. Precisamos primeiro aplicar isso a nós mesmos e depois aos outros. Por isso dizemos que a Palavra de Deus é suficiente para o que precisamos saber, pois ela é de Deus e vem de Deus.
Ela foi escrita por homens, que escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, a de Deus, não a do homem.
Mais uma vez precisamos dar voz a Calvino:
“Eis aqui o princípio que distingue nossa religião das demais, ou seja: Sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram por si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar.
Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a Lei e os Profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como uma fonte própria. Elas foram inspiradas pelo Espírito Santo.”
A interpretação das Escrituras, também não é uma “revelação particular”, nem uma “iluminação repentina”, nem um “insight”, nem um transe, nem uma “dose de êxtase”, mas é a Bíblia que autentica a si mesma como Palavra de Deus, como Revelação.
Ele mesmo quem nos ilumina para que possamos interpretá-la corretamente (Sl 119.18)
Assim devemos observar os seguintes pontos:
a) É a Bíblia que interpreta a sim mesmo.
b) Ao ler a Bíblia, precisamos buscar dentro dela mesmo os contextos, comparando texto com texto.
c) O Espírito Santo, não pode ser separado das Escrituras, pois Ele sempre nos levará à Elas e não trará um nova revelação.
7 - CRESÇA NA GRAÇA, CRESÇA NA FÉ E NO CONHECIMENTO DE DEUS.
A graça nos leva à fé e a
conhecimento de Deus, de Cristo e da salvação. A graça antecede à fé e ao
conhecimento de Deus, pois é a graça e pela graça que somos levado à Deus. A
graça é Deus gratuitamente se revelando e nos chamando a si mesmo.Não há uma pessoa sequer que não necessite da graça, mesmo que não saiba, não admita ou dela não participe.
Todos, sem exceção, somos devedores à graça de Deus – o favor imerecido dado por Deus aos pecadores. Deus é o “Deus de toda a graça (1Pe 5.10).
Tudo o que temos, somos e seremos é pela graça (1Cor 15.10). a riqueza da graça se manifesta em nós de modo superabundante (2Cor 9.14; Ef 1.7; 2.7).
A vida cristã é uma caminhada na graça, com a graça e pela fé, por isso não podemos nos acomodar, nem nos contentar com uma vida que não seja a vida abundante que Jesus prometeu. Precisamos crescer na graça dia após dia até que nossa salvação estiver concluída (Fp 1.6; 1Pe 1.3-5).
Tudo o que sabemos até agora, precisamos saber mais. Tudo o que experimentamos de Deus até agora, precisamos experimentar mais.
A revelação é perfeita, mas só a entenderemos com perfeição quando a nossa salvação se consumar na glória eterna (2 Cor 3.18; 1João 3.2).
Destacamos os seguintes pontos:
a) A graça de Deus nos leva à fé em Jesus.
b) A fé em Jesus é a verdadeira fé em Deus e a fé em Deus só é verdadeira se for a fé em Jesus (João 14.6; João 3.16).
c) Deus nos chama e a nossa reposta á iniciativa de Deus é a fé, que é o resultado da operação da graça de Deus em nós.
d) Quando Deus nos chama pela Palavra e o Espírito Santo desperta em nós a fé em Deus.
A fé, portanto, é o resultado da ação
da graça salvadora de Deus (At 15.11; 18.27; Ef 2.8; Fp 1.29).
A fé nos eleva a um outro patamar ,
pois ela não é nem racional, nem irracional, ela é supra racional, pois ela
desperta em nós faculdades como a capacidade de ter esperança no futuro, crer
no invisível, projetar o futuro, crer no futuro, nos levar ao mundo invisível,
crer no impossível, ou seja, nos lança no infinito (1Cor 15.19; Hb 11.1). Algumas verdades bíblicas sobre a fé:
a) A fé verdadeira, não é pensar positivo, nem ter otimismo, mas só é verdadeira fé, a fé que é dada pelo próprio (Ef 2.8)
b) A fé, sendo um dom, uma dádiva, só pode vir de Deus (Tg 1.17)
c) A fé nos leva à salvação, e tudo o que diz respeito à salvação vem de Deus (2 Pe 1.3; 1 Cor 4.7)
d) É Deus quem reparte a fé (Rom 12.3).
e) Os sentimentos que temos em relação a Cristo, nos são “concedidos” (Fp 1.29).
f) A fé nos leva ao sobrenatural ( Mc 9.23; Mt 17.20 ver Hb 11)
A fé, então, não é um sentimento, mas uma faculdade nova que surge naquele que foi salvo por Jesus. Ela não é racional, nem emocional, ela respalda-se em Deus e na sua promessa.
Foi isso que aconteceu com Abraão, chamado o ‘pai da fé”, conforme o apóstolo Paulo escreve que “não duvidou, por incredulidade da promessa de Deus: mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Rom 4.20-21).
Baseado nisso podemos concluir que:
a) Não podemos ir além do que Deus mesmo nos revelou na Bíblia
b) A Palavra de Deus deve sempre o guia da nossa fé, a luz da nossa fé.
c) A fé não em Deus é a fé no onipotente.
Assim, fé verdadeira, não é fé na fé, pois é fundamentada não em si mesma, mas na pessoa de Deus e na sua promessa. A fé exige o conhecimento da Palavra de Deus (Jos 1.8; Sl 119.97; Fp 3.15; Tg 1.22-25).
Vejamos as implicações disso:
a) Devemos ler a Palavra de Deus.
b) Devemos estar atentos à Palavra de Deus.
c) Devemos entender e praticar a Palavra de Deus.
A fé não consiste na ignorância, mas no conhecimento; e este conhecimento há de ser não somente de Deus, mas de sua divina vontade.
A fé é gerada em nós pelo Espírito Santo através da Palavra (Rom 10.17).
Quem quiser crescer na fé precisa:
a) Ler mais a Palavra de Deus. Lendo a Palavra, você vai crescer na fé.
b) Ler a Palavra em oração, pois a fé verdadeira é aquela que ouve a Palavra de Deus e descansa em sua promessa.
c) Ser cheio do Espírito Santo, pois a fé é a boa obra do Espírito Santo em nós, que age fundamentado na obra de Cristo na cruz. As melhores virtudes cristãs são chamadas de “fruto do Espírito” (Gl 5.22-23), pois o ser humano de si mesmo não conseguiria praticar estas virtudes.
É somente pela graça, mediante a fé, que podemos nos apropriar da revelação com atos e palavras feitas por Deus (Ef 1.15-18; Sl 119.18), assim, podemos concluir três fatos:
a) Somente a fé como efeito da graça, nos faz perceber a revelação.
b) Somente a fé abre nossos olhos para a Palavra de Deus.
c) Somente a fé traz a iluminação para nos abrir ao sobrenatural de Deus.
8 - CREIA QUE O SER HUMANO CRIADO POR DEUS, É IMAGEM E SEMELHANÇA DE
DEUS.
O cristão precisa ver o ser humano
como criado por Deus, não apenas isso, precisa entender que o ser humano é
imagem e semelhança de Deus. O pecado obscureceu, mas anulou, não exterminou a
imagem de Deus. Quando pregamos a Palavra de Deus, sabemos que na mente e no
coração das pessoas há uma sede de Deus, uma sede de vida espiritual, pois há
em cada pessoa um espírito para ser despertado. Ao pensar em nós mesmos e nos
outros, ao pensar na vida, devemos dar graças a Deus, pois a vida é um dom. Ela
vem de Deus. O ser humano é resultado da vontade de Deus (Sl 135.6). O ser humano não foi criado pelo acaso, por uma aleatoriedade, mas por vontade de Deus, por sua sábia e soberana vontade (Gn 2.7; Rm 11.33-36; Sl 148.5; Sl 139.14).
Nossa vida procede da própria vida divina, por isso, temos ao mesmo tempo uma origem terrena e celestial. Somos expressão da divindade, por isso, nosso destino é a eternidade, implicando assim também, a vida eterna ou a perdição eterna.
O ser humano, como imagem de Deus, também partilha com o seu criador a possibilidade de um relacionamento pessoal profundo (Ef 4.24).
Como imagem e semelhança de Deus, também somos chamados a termos relacionamentos, pois desde o princípio Deus fez a observação “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.5). Foi por isso que Deus ao criar o homem, também em seguida criou a mulher para que se relacionassem de forma a ser os dois “uma só carne” (Gn 2.20-24). Esta necessidade de relacionamento não é resultado de uma adaptação social evolutiva, mas, tem origem no próprio Deus (MT 19.6).
Ao pensar no casamento, devemos pensar no mais ideal dos relacionamentos, pois é feito para suprir a necessidade mutua de parceria e complemento, sem isso, o resultado seria a carência.
Deus sendo um ser supremo e Todo-Poderoso, também é um ser relacional, criando o ser humano com a mesma capacidade, condição. Deus, sendo Deus, não necessita de nenhum tipo de relacionamento, mas o ser humano ao contrário precisa e muito (Gn 2.21-22; Ecl 4.9-12).
As implicações disso são:
a) Cada ser humano necessita compartilhar conhecimentos, afetos, amar e ser amado.
b) Cada ser humano porque foi criado por Deus, necessita viver em comunhão, compartilhando relação de ideias, valores e sentimentos.
c) Cada ser humano, porque foi criado por Deus, necessita compartilhar amor, emoções e desejos.
d) Cada ser humano, porque foi criado por Deus, necessita ser feliz, compartilhar esta felicidade por meio de aprendizados, diversão e beleza.
A grande realização humana, entretanto, é seu encontro com Deus, como observou Santo Agostinho (Agostinho de Hípona, um dos Pais da Igreja, do 4º Século): ”Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti.”
Eclesiastes também diz que “Deus colocou a eternidade no coração do homem” (Ecl. 3.11; Ef 4.24)).
O que concluímos então é que:
a) O ser humano tem origem em Deus e de Deus e dele necessita.
b) O ser humano só tem realização plena quando sua existência é em Deus e para Deus.
c) O ser humano só vê sentido pleno em sua vida, quando de alguma forma sente que Deus se expressa através dele.
Quando falamos que o ser humano é a imagem de Deus estamos falando do estado normal do ser humano, não é algo que está dentro de nós, ou algo acerca de nós, senão nossa própria humanidade.
A imagem de Deus é própria da humanidade. Não seriamos humanos sem ela. De toda a criação de Deus, somente o ser humano é capaz de um relacionamento pessoal consciente com seu criador e de reagir a ele. Somente sendo humanos, somos imagem e semelhança de Deus (Gn 3.8-14)
As lições que podemos tirar disso são as seguintes:
a) Como imagem e semelhança de Deus, temos consciência de que somos um eu – sabemos que somos, o que somos e quem somos.
b) Como imagem e semelhança de Deus, temos consciência do bem e do mal que fazemos e que nos fazem.
c) Como imagem e semelhança de Deus, temos necessidade de liberdade, possibilidade, desejo, vontade e capacidade de decisão.
d) Como imagem e semelhança de Deus, temos senso de eternidade e desejamos a vida eterna.
O grande problema é que com o pecado estas coisas que eram para ser autênticas e puras, foram manchadas pelo pecado. O pecado obscureceu esta imagem e semelhança, por isso somente em Jesus pode ser recuperadas (Col 3.9-10)
Quanto ao senso de eternidade, o ser humano foi criado para viver eternamente, mas o pecado trouxe a morte eterna (Rom 6.23).
A vida eterna somente é alcançada em Jesus, e esta vida eterna é alcançada pela morte de Jesus Cristo na cruz. A ressurreição de Jesus é nossa garantia de vida eterna (Rm 5.12; 6.23; 1Cor 15.20-21).
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